quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Meu Aquecimento de jogo

"Deus nos livre dos cientistas que, contudo, não entenderam que o futebol é um feito cultural e que... não se pode interromper uma emoção." Jorge Valdano

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Mostrarei aqui o aquecimento que usualmente utilizo antes dos jogos. Creio que este, como tudo relacionado ao fenômeno futebol, deve ser o mais fiel possível à situação do jogo.

Antes de aplicá-lo nos jogos, costumo inserir as 'partes' nos treinamentos cotidianos, juntando, assim, aos poucos, o quebra-cabeça. Esse aquecimento foi modelado para uma equipe que tem sua estrutura baseada no 1-4-4-2

1ª Parte (3 Minutos)

Primeiramente, reservo os 3 minutos iniciais para movimentações livres e alongamentos dinâmicos, também de forma livre. Conscientizo, nos treinamentos, os atletas sobre as formas de movimentações e de alongamentos. Os 16 atletas dividem-se em 2 grupos com coletes diferentes (8+8). Os goleiros ficam a trabalhar com o seu treinador específico.



2 Parte - (4 minutos)

Essa segunda parte é dedicada a movimentações com bola envolvendo troca de passes rápidos e precisos. 

2.1 (2 minutos)

Jogadores verdes distribuídos fora do quadrado, como no desenho abaixo, servindo de apoio. Jogadores amarelos dentro do quadrado para realizar as movimentações. O jogador amarelo de posse de bola se movimentará pelo quadrado conduzindo a bola e escolherá aleatoriamente um jogador verde para efetuar um passe. O jogador verde fará uma parede devolvendo a bola para o mesmo jogador que fará um segundo passe e sairá em ritmo acelerado pra passar por trás do jogador verde e receber novamente a bola. Finalizando  isso, o jogador amarelo escolherá outro jogador para repetir o processo. Deve-se orientar o jogador a alternar os lados evitando, com isso, jogar com o jogador verde vizinho.

Essa movimentação tem duração de 1 minuto. Alterna-se as equipes em seguida.



2.2 (2 minutos)

Nessa fase as movimentações são alternadas e não existem equipes fixas dentro ou fora do quadrado. O jogador de posse de bola realizará um passe rápido e preciso para o jogador verde, este fará uma parede para o jogador amarelo que devolverá a bola e ocupará o lugar deste. O jogador verde que estava como apoio agora estará dentro do quadrado e procurará rapidamente um jogador que esteja fora para realizar um novo processo.




Parte 3 (4 minutos Aproximadamente)


Nessa parte acontecem jogos 4x4 (2 tempos de 1'30''). Observem que os dois atacantes estão a realizar finalizações (aproximadamente 3 para cada) deixando, com isso, as equipes verdes em inferioridade temporária. Depois das finalizações eles se juntarão com os demais. Observem também que os jogadores suplentes também participam nessa fase.




Parte 4 (6 minutos Aproximadamente)

Essa fase é dedicada a movimentações específicas utilizando-se de ações técnicas próximas das que acontecem no jogo.
A equipe é distribuída conforme o desenho abaixo com 4 jogadores no meio-campo, 2 laterais, 2 atacantes e 2 zagueiros (amarelos) e mais 1 goleiro (que não foi incluído no desenho por descuido). Nessa fase os jogadores suplentes estarão realizando uma rodinha de bobo.
Essa parte é dividida em 3 movimentações:

4.1 - Movimentação 1

O jogador de meio campo com a posse de bola passará a bola ao atacante. Este realizará uma parede para o mesmo meia que passou a bola e irá para o 2º pau. O meia passa a bola para o lateral e se aproxima para a posição de rebote criando uma situação de 3x2. O lateral irá procurar a melhor opção para o cruzamento ou bola rasteira. Essa fase encerra-se quando os 4 jogadores do meio realizarem essa ação. Ou seja, 2 ações do lado direito e 2 ações do lado esquerdo de forma alternada.


*Cada movimentação encerra-se com finalização dos meias com auxílio dos atacantes 
(1 finalização cada)


4.2 - Movimentação 2

O Meia efetua o passe para o lateral. O lateral fará um passe para o atacante que devolverá de primeira para o meia. O meia passará a bola no fundo para o lateral que realizará o cruzamento. O meia que iniciou a jogada sempre irá aparecer no rebote para configurar uma situação 3x2.


*Repete-se a finalização dos meias.


4.3 - Movimentação 3

O Meia efetua o passe para o lateral. O lateral fará um passe para o atacante que devolverá de primeira para o meia. O meia, desta vez, passará a bola para o lateral do lado inverso que realizará o cruzamento.


*Finalização dos meias




Parte 5 (1 minuto Aproximadamente)

Sprints variados

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Abraço a todos!

sábado, 2 de junho de 2012

Fortes sem pisar na academia

Venho transcrever um texto que o colega Rodrigo Almeida nos enviou (agradeço o mesmo pela partilha de interessantes artigos) e que retrata um pouco do trabalho de Mourinho e sua comissão no Real Madrid. Texto simples e sem nenhuma surpresa para os que se familiarizam com a forma de trabalhar do Special One, porém é sempre de grande valia ler, ver ou ouvir sobre o dia a dia de trabalho em Valdebebas. 


Lembrando que esse texto é escrito sob a ótica do jornalista DIEGO TORRES do Jornal El País.

FORTES SEM PISAR NA ACADEMIA


Mourinho consegue que os jogadores do Real Madrid alcancem o 'pico' de aptidão ótima, sem pesos ou sessões de preparação física.

DIEGO TORRES - Madrid - 26/04/2011 - Véspera da partida de Ida das semifinais da Champions League 2010/11

                                       

A primeira coisa que impressionou muito os jogadores do Real Madrid quando começaram a temporada com José Mourinho no verão passado foi que não havia sessões dedicadas exclusivamente ao treinamento físico. O preparador, Rui Faria, o braço direito do técnico, não colocou os jogadores a realizar corrida contínua para exercitar o coração e os pulmões, nem  projetou circuitos para trabalhar a potência, ou subidas em rampas e obstáculos para saltar. "Só fazíamos jogos de 3x3, 3x2, 4x3, 5x5 ...", lembra um jogador. "Jogávamos todos os dias em um campo que variava em amplitude, com traves, que aumentavam ou diminuíam em número ou tamanho". 

                                       

"A resistência e a potência, melhoram favorecendo a parte tática", diz o treinador. 

Os jogadores ficaram incrédulos. "Você vai ficar muito bem ao final da temporada." Mourinho tranquilizava. Ao final, o plantel trabalhou sem realizar o tradicional trabalho físico. Só jogos com bola. Rotinas descontraídas, porém intensas, o que naturalmente tornou-se mais conhecido como exercitar o corpo e a mente, o físico e a tática.

No livro Por que tantas vitórias? Mourinho afirma que seus treinamentos são realizados, desde o início, com a presença da bola, tudo gira em torno da organização do futebol. No processo de organização, os jogadores são treinados para jogar e, portanto, evoluir fisicamente. "Na busca do lado tático, estou favorecendo todos os outros componentes de desempenho", diz, "a partir da necessidade tática surge todo o resto. Eu não acredito em equipes bem ou mal preparadas fisicamente, mas em equipas identificadas ou não com um dado modelo de jogo. Porque a adaptação fisiológica é sempre específica para essa forma de jogo. Preocupações técnicas, físicas e psicológicas, tais como concentração, surgem por arrasto. 

Oito meses após o início da temporada, o Real Madrid chegou ao auge de sua condição física. E tem uma vantagem sobre o Barça na próxima rodada da Liga dos Campeões, seus jogadores estão descansados. Além disso, conta com um maior elenco e isso permitiu  que os jogadores do Madrid jogassem uma média de 300 minutos competitivos a menos do que seus adversário. 

Até agora nesta temporada, o método não mudou. Pelo contrário. Estes dias, os titulares habituais, como um Cristiano, Ramos ou Alonso, seguem treinando. As sessões sobre a grama são mínimas. Quinze minutos, alguns alongamentos e descansar. A academia está reservada para jogadores lesionados ou aqueles com algum déficit a ser corrigido.


Os treinamentos duram aproximadamente 1 hora e se desenvolvem em alta intensidade,  e  os exercícios são cuidadosamente cronometrados, de 10 a 20 minutos. Os jogadores dizem que não podem parar. Devem estar sempre em movimento e se aproximando das tensões máximas. "Você tem alguns segundos para se recuperar e se hidratar, e se você se distrai conversando com alguém pode acabar ficando sem beber água" Ele explicou. Ciclicamente, Mourinho interrompe os jogos para trabalhar automatismos defensivos com grupos de 11. Neste ponto, todo mundo reconhece que o trabalho de Português é excelente.

Graças a seu sucesso, Mourinho popularizou um método, o treinamento integrado, que começou a ser concebido em Barcelona sob o comando de Louis van Gaal. O treinamento é derivado de uma invenção de Paco Seirul-lo quando era o preparador físico de Valero Rivera no handebol do clube. De lá, ele  transferiu esse sistema para o  futebol com Johan Cruyff e Van Gaal. "Historicamente, quase todo o treinamento físico não estava relacionado com as necessidades do jogador eo jogo, porque ele veio inspirado no mecanicismo e behaviorismo", afirma Lillo, "os treinadores antigos vieram do atletismo e foram inspirados pela teoria linear. Mas se existe algo não é linear, esse algo é um ser vivo. muito menos uma equipe de 25 seres vivos. Como Lillo disse: "No futebol, o treinamento físico sem a bola é como treinamento de força de braço de Nadal sem integrar o braço para o corpo."

Rui Faria e Mourinho aplicam isso em Madrid. E os jogadores agradecem.

http://www.elpais.com/articulo/deportes/Fuertes/pisar/gimnasio/elpepidep/20110426elpepidep_1/Tes28/04/11

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Treinamento de Força no Futebol - Um olhar reflexivo

Para se tocar piano, ninguém visualiza o pianista correndo em volta do referido instrumento musical para adquirir resistência no intuito de produzir belas melodias. (FRADE)
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Quebrar paradigmas no Futebol é uma tarefa por demais complicada. Embora, tenhamos acompanhado, ao longo das últimas décadas, cair por terra diversas 'verdades' antes tidas como absolutas. 
Em um país com uma cultura futebolística muito forte, como é o caso do Brasil, essa intenção fica cada vez mais difícil. Com relação a isso, iremos falar sobre o treino de Força no futebol. 




O futebol moderno está cada vez mais rápido e com isso o culto à Dimensão Física tem aumentado de maneira exacerbada ano após ano.  Aqui no Brasil, este tipo de treinamento tem sido caracterizado, em sua grande parte, pela utilização de aparelhos em academias.
Saliba e Hrysomallis (2001) e Reilly (1994) referem que o treino da força pode contribuir efetivamente para a melhoria da performance de remate em jogadores de futebol. Embora, a prevenção de lesões seja também um dos objetivos perseguidos por este tipo de treinamento. De Proft et al (1988) referem estar demonstrado que o treino do futebol aumenta a força, mas que a associação deste a um programa de treino de força individual irá resultar em níveis de força superiores, melhores performances de remate e melhor performance funcional, considerando sempre que as habilidades técnicas são uma determinante importante do remate. 
Porém, 'Atendendo' ao princípio da Especificidade, novos métodos tem sido implantados. Os preparadores Físicos tem 'transferido' as academias para o campo de jogo. Pesos livres, Halteres, saltos, pliometria, cintos de tração, mudança de direção etc. fazem com que o treino torne-se mais 'específico'.
Antes de continuarmos vejamos o que dizem alguns autores sobre o Princípio da Especificidade: 


"Aquele que impõe, como ponto essencial, que o treinamento deve ser montado sobre os requisitos específicos da performance desportiva, em termos de qualidade física interveniente, sistema energético preponderante, segmento corporal e coordenações psicomotoras utilizadas." Dantas (1998)


"O princípio da especificidade preconiza que sejam treinados os aspectos que se prendem directamente com o jogo (estrutura do movimento, tipo de esforços, natureza das tarefas…) no sentido de viabilizar a maior transferência possível das aquisições conseguidas no treino para o contexto específico do jogo." (Garganta, 1999).


Pegando essas definições como balizadores práticos do treinamento, fica visível desta forma, e por demais notório o conflito do Princípio da Especificidade com a prática realizada nos treinamentos. Ou seja, TREINA-se de uma forma para JOGAR de outra.
Segundo Bangsbo (1994) os treinamentos de força especial para futebolistas devem ser realizados com movimentos relacionados às ações motoras do jogo pela influência da adaptação neural na produção de força, em que este elevado nível não poderá ser utilizado efetivamente se o atleta não for capaz de coordenar a ativação dos diferentes grupos musculares no movimento. 
Jorge Maciel, treinador português, em uma entrevista concedida ao amigo Luis Esteves (www.organizacaodejogo.blogspot.com) fala sobre a musculação no futebol sob a perspectiva da Periodização Tática. Transcrevo aqui alguns trechos:

Considero que de uma forma geral a musculação é desnecessária para se jogar futebol. E aqui não estou a contemplar a possibilidade de haver jogadores com patologias, ou até mesmo a necessidade de nós termos sensibilidade para perceber que há jogadores que fruto da sua habituação a fazerem-no têm necessariamente que o fazer, pois caso não o façam sentem-se desconfortáveis. Mas também nesses casos a nossa intervenção deverá ser no sentido de diminuir e quem sabe abolir com tais necessidade subconscientes somatizadas.
(...)
A musculação procura retratar uma realidade irreal, é um contexto postiço, desde logo porque não permite estar em relação com a bola e o contexto de jogo, por isso terá necessariamente perdas. A propriocepção é algo concreto, contextual e os estímulos que emanam do contexto de jogo não são passíveis de serem reproduzidas numa sala de musculação.
(...)
Eu entendo o Corpo como uma realidade inteligente, que como tal carece de ser aculturada. Trata-se inegavelmente de uma realidade plástica, sobre a qual o treino pode actuar. Mas que treino?! Para mim a plasticidade tem de rimar com selectividade e consequentemente com Especificidade. Nós tornamos-nos selectivos pelo que fazemos, assim como a adaptabilidade que imana do que fazemos tem a ver com essa selectividade.

Nesta linha, Silva (1990) refere que para treinar a Força Rápida não são necessários aparelhos complicados nem salas de musculação, sendo possível recorrer-se a formas acessíveis (sprints, mudanças de direcção, multisaltos, etc). Assim, sempre que possível devem-se selecionar exercícios que englobem situações de jogo ou formas reduzidas. 
Diante de tudo o que foi exposto, o que fica claro é  que, a Especificidade vai muito além da forma com a qual convencionalmente a enxergamos. Vendo o futebol como um esporte coletivo  cheio de imprevisibilidade, fruto decorrente das interações entre os jogadores de uma mesma equipe em oposição/interação com jogadores de outra equipe, e tratando-o como um fenômeno complexo, a preocupação que se deve ter com relação ao treinamento seria a aquisição de uma forma ótima do JOGAR que se pretende.  Quero dizer com isso que o treinamento não deve ser reduzido e empobrecido à questões 'puramente físicas'.  Pivetti (2012) vem corroborar com essa questão ao afirmar que o que se pretende é realmente a incorporação funcional coletiva de uma função tática do modelo de jogo, e não uma valência condicional em particular. 
Não se quer, com isso, dizer que não deve-se dar atenção ao treinamento de força no futebol, e sim, deixar claro que, tanto esta como as demais demais  valências condicionantes devem ser subjugada pelo modelo de jogo que a equipe pretende desenvolver, em função de treinamentos que priorizem um estado otimizado de um JOGAR pretendido, e  isso é perfeitamente possível de se adquirir treinando-se em ESPECIFICIDADE!
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REFERÊNCIAS:


BANGSBO, J. The physiology demands of playing soccer. In: EKBLOM, B. (Ed.).
Football (soccer). London: Blackwell Scientific, 1994c. Cap.4, p. 43-58.


DANTAS, EHM A prática da preparação física. 4º ed. Rio de Janeiro: Shape, 1998.

De PROFT, E., Cabri, J., Duffour, W., & Clarys, J. (1988). Strength training and kick performance in soccer players. In T. Reilly, A. Lees, K. Davids, & W. J. Murphy (Eds.), Science and football (pp. 108-113). London: E. & F. N. SPON.

GARGANTA, J. (1999). O desenvolvimento da velocidade nos jogos desportivos colectivos. Revista Treino Desportivo. n° 6, pp: 6-13.

MACIEL, J. Conversa de Futebol - Metodologia, treino e ideias sobre futebol [16/09/2011]. www.organizacaodejogo.blogspot.com Entrevista concedida à Luis Esteves

PIVETTI, BMF. Periodização Tática – O futebol-arte alicerçado em critérios. 1ª ed. São Paulo: Phorte, 2012.

SILVA, J. (1990): A propósito do treino da Força Rápida no Futebol. Treino Desportivo, 18: 19-23

WEINECK, J. Futebol Total – O treinamento físico no futebol. 1ª ed. São Paulo: Phorte. 2000.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Aquisição - Recuperação

"O futebol e a sua organização e profissionalismo tem que ser repensados de alto a baixo, para tanto urge trazer de volta a matriz desportiva, até agora soterrada pelo negócio e a indústria." (Bento, 2008) 



Estive lendo o artigo Espiral de AutoRenovação e Lei de Roux – Uma Perspectiva Diferente do Professor Jorge Maciel que foi postado pelo amigo Luís Esteves em seu blog http://www.organizacaodejogo.blogspot.com/2012/01/espiral-de-auto-renovacao-e-lei-de-roux.html e que aborda assuntos interessantes sobre aquisição e recuperação em relação ao treino. 

O texto nos fala sobre treinar sempre em condições de frescura, ou seja, sem fadiga. Resultando, com isso, numa Resiliência Orgânica que provocaria adaptações positivas ao organismo do atleta.

Vamos então ao significado de RESILIÊNCIA: segundo o Dicionário Aurélio, Resiliência é a Propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal deformação elástica.  Em outras palavras, um organismo resiliente desenvolve a capacidade de recuperar-se e moldar-se novamente a cada obstáculo e a cada desafio (estímulo). Quando mais resiliente for o organismo  maior será o desenvolvimento.

Desta forma, o artigo tenta nos mostrar a importância da recuperação no treino de futebol e entre as sessões de treino. Temos obsessão pela aquisição e esquecemos que existem dois lados de uma mesma moeda (que é única e indissociável). É por demais controverso não dar a devida importância  para a recuperação, e 'perder tempo' treinando coisas que nada tem a ver com o jogar da equipe. Escolher treinar de forma não específica do que salvaguardar os atletas para o próximo treino parece, nesse contexto no qual se refere o artigo, um grave erro metodológico.

Tomando como base a Periodização Tática e o Morfociclo Padrão com o Princípio da Alternância Horizontal em Especificidade devemos levar em conta o tipo de esforço (tensão, duração e velocidade) distribuídos em cada dia da semana. Elege-se a Quarta, Quinta e Sexta-Feira como dias de aquisição,  embora saibamos que todas as sessões contemplam o Binômio Aquisição-Recuperação.

Com relação à densidade (relação proporcional entre o tempo de exercitação e o respectivo repouso) dos diferentes dias o artigo nos propõe o seguinte: 
  • Segunda-Feira: Folga
  • Terça-Feira (Dia da Sub-Dinâmica - Recuperação Ativa): 1/8 - 1/9
  • Quarta-Feira  (Dia da Sub-Dinâmica - Tensão): 1/4
  • Quinta-Feira  (Dia da Sub-Dinâmica - Duração): 3/1 - 4/1
  • Sexta-Feira  (Dia da Sub-Dinâmica - Velocidade): 1/8 - 1/9
  • Sábado  (Dia da Sub-Dinâmica - Recuperação Ativa): 1/10
  • Domingo: Jogo
Diante do que foi exposto, fica visível uma preocupação em deixar o atleta sempre fresco  para um novo estímulo, criando dessa forma uma adaptabilidade específica decorrente de uma perfeita operacionalização do Morfociclo Padrão, respeitando os princípios da Especificidade, da Alternância Horizontal em Especificidade, da Progressão Complexa e das Propensões desde o primeiro dia de treino. 

Já presenciei treinadores gostarem de trabalhar sempre em fadiga, com o pretexto de se criar no organismo uma adaptabilidade sobre a mesma. Ou seja, em sua ótica, estando a trabalhar sobre a fadiga, logo logo o organismo 'encontraria' um meio de se adaptar à esse cenário e criaria uma resistência maior aos estímulos presentes no jogo. Isso parece-me meio militarista, tal e qual o Preparador Físico que sente-se bem ao ver um atleta seu com ânsia de vômito durante um exercício intenso e extenuante. Esse quadro pode-se facilmente transformar-se numa Fadiga Crônica por conta de um desajuste do 'volume' de trabalho e repouso, por excesso de treinoO mais engraçado é, depois de tudo isso, apoiar-se em suplementos, crioterapia, piscinas, corridinhas de baixa intensidade e etc. para 'acelerar' a recuperação desse mesmo atleta. Sobre isso, recorro a uma citação do professor Jorge Maciel:



" O recurso a tais meios poderá constituir-se como um estorvo e até de certa forma como uma dependência por parte do organismo em relação àquele que é um dos meus objetivos com o treino. O Professor Vítor Frade tem uma expressão muito boa relativamente ao que tento referir, quando diz que recorrer a esses meios consiste em “dar muletas ao corpo”."




Creio que tudo se resume ao treinar em Especificidade. Quero dizer com isso que, treinando de forma Específica a minha ideia de Modelo de Jogo, irei priorizar a qualidade do treino e não a quantidade. Desta forma não perco tempo com coisas alheias ao jogo que de nada servem além de (na maioria das vezes)  'encher linguiça' e mostrar aos Diretores, Jogadores, Torcedores que 'treina-se' muito.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

10 anos

Novamente dentro dos gramados deparo-me, cheio de satisfação e alegria, com um mundo de possibilidades que o futebol nos proporciona. Uma dessas possibilidades é colocar em prática, dentro do campo (ou fora dele), o conhecimento que adquirimos ao longo dos tempos  através do 'entendimento' que temos sobre o futebol. Tenho falado que o modo como treinamos é reflexo de como enxergamos e entendemos o jogo. Desta forma, recorro agora a uma citação na qual, acredito eu, explica bem o que tenho falado:

“A maneira como o indivíduo apreende e interpreta a informação depende da sua experiência, dos seus valores, das suas aptidões, das suas necessidades e das suas expectativas. Temos tendência para reter os dados que são compatíveis com as nossas convicções e as nossas ideologias, e que nos convêm. “ (Abravanel, 1986)

Lembro-me bem que, 10 anos atrás quando iniciei minha trajetória dentro dos campos, como membro de comissões técnicas, tinha uma visão de futebol totalmente diferente da que tenho hoje. Isso era fruto da corrente de pensamento da faculdade onde me formei. Lá bebi da fonte do conhecimento cartesiano, das tendências de treinamento do leste europeu. Durante alguns anos enxerguei o futebol de maneira conservadora, reducionista e arcaica. Porém, consigo perceber que mudei bruscamente o meu modo de enxergar e entender o futebol nesses 10 anos.

Não tenho a metodologia certa e não creio que alguém a tenha. E desta forma recorro a uma nova citação para contar o que pretendo dizer com isso:

“(…) O êxito no futebol tem mil receitas . O treinador deve crer numa, e com ela seduzir os seus jogadores” (Valdano, 1998: 210)

O que acreditamos ser o certo hoje, amanhã corre um grande risco de não mais ser. Devemos tentar sempre estar abertos a novas possibilidades, pois como disse Abravanel, na primeira citação, costumamos dar atenção somente ao que nos convêm, de acordo com nossas ideologias e convicções atuais, e temos tendência em renegar o que não se enquadra nesse contexto.

Passados 10 anos tenho a convicção que tenho procurado aprimorar os meu conhecimentos sem descartar qualquer possibilidade. Investigando, interagindo, praticando, experimentando, falhando, tentando novamente, acertando, vibrando... sempre com entusiasmo e agradecido à Deus por ter me dado oportunidade de fazer parte desse mundo fascinante do futebol!


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