sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Aquisição - Recuperação

"O futebol e a sua organização e profissionalismo tem que ser repensados de alto a baixo, para tanto urge trazer de volta a matriz desportiva, até agora soterrada pelo negócio e a indústria." (Bento, 2008) 



Estive lendo o artigo Espiral de AutoRenovação e Lei de Roux – Uma Perspectiva Diferente do Professor Jorge Maciel que foi postado pelo amigo Luís Esteves em seu blog http://www.organizacaodejogo.blogspot.com/2012/01/espiral-de-auto-renovacao-e-lei-de-roux.html e que aborda assuntos interessantes sobre aquisição e recuperação em relação ao treino. 

O texto nos fala sobre treinar sempre em condições de frescura, ou seja, sem fadiga. Resultando, com isso, numa Resiliência Orgânica que provocaria adaptações positivas ao organismo do atleta.

Vamos então ao significado de RESILIÊNCIA: segundo o Dicionário Aurélio, Resiliência é a Propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal deformação elástica.  Em outras palavras, um organismo resiliente desenvolve a capacidade de recuperar-se e moldar-se novamente a cada obstáculo e a cada desafio (estímulo). Quando mais resiliente for o organismo  maior será o desenvolvimento.

Desta forma, o artigo tenta nos mostrar a importância da recuperação no treino de futebol e entre as sessões de treino. Temos obsessão pela aquisição e esquecemos que existem dois lados de uma mesma moeda (que é única e indissociável). É por demais controverso não dar a devida importância  para a recuperação, e 'perder tempo' treinando coisas que nada tem a ver com o jogar da equipe. Escolher treinar de forma não específica do que salvaguardar os atletas para o próximo treino parece, nesse contexto no qual se refere o artigo, um grave erro metodológico.

Tomando como base a Periodização Tática e o Morfociclo Padrão com o Princípio da Alternância Horizontal em Especificidade devemos levar em conta o tipo de esforço (tensão, duração e velocidade) distribuídos em cada dia da semana. Elege-se a Quarta, Quinta e Sexta-Feira como dias de aquisição,  embora saibamos que todas as sessões contemplam o Binômio Aquisição-Recuperação.

Com relação à densidade (relação proporcional entre o tempo de exercitação e o respectivo repouso) dos diferentes dias o artigo nos propõe o seguinte: 
  • Segunda-Feira: Folga
  • Terça-Feira (Dia da Sub-Dinâmica - Recuperação Ativa): 1/8 - 1/9
  • Quarta-Feira  (Dia da Sub-Dinâmica - Tensão): 1/4
  • Quinta-Feira  (Dia da Sub-Dinâmica - Duração): 3/1 - 4/1
  • Sexta-Feira  (Dia da Sub-Dinâmica - Velocidade): 1/8 - 1/9
  • Sábado  (Dia da Sub-Dinâmica - Recuperação Ativa): 1/10
  • Domingo: Jogo
Diante do que foi exposto, fica visível uma preocupação em deixar o atleta sempre fresco  para um novo estímulo, criando dessa forma uma adaptabilidade específica decorrente de uma perfeita operacionalização do Morfociclo Padrão, respeitando os princípios da Especificidade, da Alternância Horizontal em Especificidade, da Progressão Complexa e das Propensões desde o primeiro dia de treino. 

Já presenciei treinadores gostarem de trabalhar sempre em fadiga, com o pretexto de se criar no organismo uma adaptabilidade sobre a mesma. Ou seja, em sua ótica, estando a trabalhar sobre a fadiga, logo logo o organismo 'encontraria' um meio de se adaptar à esse cenário e criaria uma resistência maior aos estímulos presentes no jogo. Isso parece-me meio militarista, tal e qual o Preparador Físico que sente-se bem ao ver um atleta seu com ânsia de vômito durante um exercício intenso e extenuante. Esse quadro pode-se facilmente transformar-se numa Fadiga Crônica por conta de um desajuste do 'volume' de trabalho e repouso, por excesso de treinoO mais engraçado é, depois de tudo isso, apoiar-se em suplementos, crioterapia, piscinas, corridinhas de baixa intensidade e etc. para 'acelerar' a recuperação desse mesmo atleta. Sobre isso, recorro a uma citação do professor Jorge Maciel:



" O recurso a tais meios poderá constituir-se como um estorvo e até de certa forma como uma dependência por parte do organismo em relação àquele que é um dos meus objetivos com o treino. O Professor Vítor Frade tem uma expressão muito boa relativamente ao que tento referir, quando diz que recorrer a esses meios consiste em “dar muletas ao corpo”."




Creio que tudo se resume ao treinar em Especificidade. Quero dizer com isso que, treinando de forma Específica a minha ideia de Modelo de Jogo, irei priorizar a qualidade do treino e não a quantidade. Desta forma não perco tempo com coisas alheias ao jogo que de nada servem além de (na maioria das vezes)  'encher linguiça' e mostrar aos Diretores, Jogadores, Torcedores que 'treina-se' muito.
Gilterlan Ferreira - Preparador Físico de Futebol - CREF 001193-G/RN. Tecnologia do Blogger.